quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A crise do Catolicismo

Introdução

Os conflitos sociais na Boêmia no século XV tiveram uma forte influência religiosa e prefiguraram diversos outros conflitos que eclodiriam em outras partes da Europa um século depois com o advento da Reforma Protestante. A Boêmia localizava-se onde hoje é a República Tcheca e incluía, no século XIV, a Morávia, a Silésia e a Alta e a Baixa Lusátia. O nome de Revolução Hussita, que foi dado ao conflito que eclodiu entre 1419 e 1436, referia-se ao teólogo e padre Jan Huss.




Intrigas da corte

Em 2006, Joseph Ratzinger (nome real do Papa Bento XVI) escolheu o cardeal Tarcisio Bertone como seu novo secretário de Estado, ou seja, como seu primeiro-ministro. Bertone já tinha "trabalhado" com Ratzinger na Inquisição Romana, e eles foram aliados no conclave de 2005 (o conclave papal é o congresso de cardeais que elege o Papa). A partir dessa posição, ao longo dos anos ele acumulou notável poder que ele tem usado da forma mais imprudente contra as crescentes fileiras de seus inimigos dentro da corte papal.

O desdobramento da crise econômica fez com que as autoridades bancárias ficassem menos dispostas a serem tolerantes com o modo de operação do IOR, que atuava com absoluta desregulamentação papal, livre de impostos e em total desrespeito às normas internacionais. A situação ficou tão ruim que levou as autoridades italianas a impor o desligamento de todos os caixas eletrônicos na Cidade do Vaticano. Rumores originados da Cúria Romana, e relatados pelo jornal diário La Repubblica, dizem que o bloqueio dos caixas eletrônicos e a renúncia de Bento XVI estão intimamente ligados.

Os vazamentos provavelmente começaram como uma represália contra o "partido Bertoniano". Cartas de Viganò, contendo referências explícitas, foram divulgadas para a imprensa, e informações detalhadas sobre o conflito que desdobrava-se no IOR foram reveladas. Alguns jornalistas tiveram acesso a um documento reservado escrito para o papa Bento XVI, no qual é relatado que um cardeal siciliano tinha falado com alguns eclesiásticos chineses prevendo um novo Papa antes de 2013. Os chineses entenderam isso como uma ameaça de assassinato, mas, em retrospectiva, parece muito provável que fosse uma referência à abdicação iminente.

Muda o Papa, os problemas continuam

A eleição de Joseph Ratzinger representou um afastamento da linha de João Paulo II, que era baseada no ecumenismo, universalismo e uma tentativa de apelar mais para a juventude. Como marxistas, sabemos que a política de Karol Wojtyla não foi menos reacionária: o papa polonês abriu seu reinado sob a bandeira de um flagrante anticomunismo e da intolerância, e a falsa postura anticapitalista e anti-imperialista adotada após o colapso da URSS e durante a guerra no Iraque foi realmente utilizada para ocupar o espaço político à esquerda e atrair milhões de jovens para o solo estéril das manifestações de massa no Dia Mundial da Juventude, puxando-os para longe da luta contra o capitalismo. Esta manobra, no entanto, revelou seus limites com o chamado movimento antiglobalização, quando a tentativa católica de sequestrar o movimento produziu resultados muito escassos. Na realidade, o falso anticapitalismo de Wojtyla nem sequer conseguiu impedir o deslocamento para a esquerda na América Latina, e o ecumenismo não conseguiu desacelerar significativamente o avanço de outras religiões e seitas novas.

A eleição deste teólogo alemão foi uma escolha obscurantista que implicava uma mudança de foco de volta para o núcleo duro dos verdadeiros crentes conservadores. Foi uma escolha provinciana destinada a cuidar dos gananciosos interesses da Igreja na Itália e das intrigas dentro da Cúria de Roma. Como podemos observar, esta linha também enfrentou grandes problemas e agora foi derrotada. Seu papado viu um fluxo interminável de escândalos vergonhosos, divisões dramáticas, e declarações reacionárias.

Ele herdou do papa anterior o enorme escândalo dos encobrimentos e da cumplicidade das chancelarias diocesanas e do Vaticano nos casos de estupros cometidos por sacerdotes, particularmente em crianças, e ele tratou esses casos com reticências e uma conspiração de silêncio (tudo isso está agora de novo pegando fogo com protestos em muitos países contra os cardeais passíveis de condenação ​​sendo admitidos no novo conclave.

Um sistema em crise

A crise do capitalismo é também a crise dos seus pilares ideológicos. Nenhum novo papa poderá encontrar uma maneira de sair deste beco sem saída. A Igreja Católica Romana, um fator formidável de estabilidade para o capitalismo mundial, pode se transformar em seu contrário e se tornar um elemento de instabilidade. O banco da Igreja pode falir como às vezes acontece com os bancos. Uma Igreja que fala uma linguagem anacrônica quando se trata de direitos civis e da igualdade social, mas que, ao mesmo tempo, entende muito bem a linguagem do poder e dos derivativos financeiros pode rapidamente perder o amplo apoio que ainda goza. Divisões no alto escalão sobre obscuras lutas pelo poder vão minar a sua credibilidade e anunciam cismas, tanto à direita, como os Católicos Tradicionais, e à esquerda, como a Teologia da Libertação.


Conclusão


Igreja se tornou um interessante instrumento político, mas não não conseguiu alcançar a importância cultural que desejava. Não foi sequer uma traição: o novo mundo - neoliberal - sequer achou espaço para si próprio nele e definha por conta própria, depois de sua gloriosa vitória. Não há nada mais moderno do que as técnicas de poder da Igreja e nada mais arcaico do que o Mercado, mas ambos se encontram na desdita. Nada mais curioso, aliás, que uma renúncia em pleno Carnaval, a festa que nasce da sátira ao luto público pela morte do imperador romano e na qual as leis estão suspensas para o deleite da carne.

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