Introdução
Os conflitos sociais na Boêmia no século XV tiveram
uma forte influência religiosa e prefiguraram diversos outros conflitos que
eclodiriam em outras partes da Europa um século depois com o advento da Reforma
Protestante. A Boêmia localizava-se onde hoje é a República Tcheca e incluía,
no século XIV, a Morávia, a Silésia e a Alta e a Baixa Lusátia. O nome de
Revolução Hussita, que foi dado ao conflito que eclodiu entre 1419 e 1436,
referia-se ao teólogo e padre Jan Huss.
Intrigas
da corte
Em 2006, Joseph Ratzinger (nome real do Papa Bento
XVI) escolheu o cardeal Tarcisio Bertone como seu novo secretário de Estado, ou
seja, como seu primeiro-ministro. Bertone já tinha "trabalhado" com
Ratzinger na Inquisição Romana, e eles foram aliados no conclave de 2005 (o
conclave papal é o congresso de cardeais que elege o Papa). A partir dessa
posição, ao longo dos anos ele acumulou notável poder que ele tem usado da
forma mais imprudente contra as crescentes fileiras de seus inimigos dentro da
corte papal.
O desdobramento da crise econômica fez com que as autoridades
bancárias ficassem menos dispostas a serem tolerantes com o modo de operação do
IOR, que atuava com absoluta desregulamentação papal, livre de impostos e em
total desrespeito às normas internacionais. A situação ficou tão ruim que levou
as autoridades italianas a impor o desligamento de todos os caixas eletrônicos
na Cidade do Vaticano. Rumores originados da Cúria Romana, e relatados pelo
jornal diário La Repubblica, dizem que o bloqueio dos caixas eletrônicos e a
renúncia de Bento XVI estão intimamente ligados.
Os vazamentos provavelmente começaram como uma
represália contra o "partido Bertoniano". Cartas de Viganò, contendo
referências explícitas, foram divulgadas para a imprensa, e informações
detalhadas sobre o conflito que desdobrava-se no IOR foram reveladas. Alguns
jornalistas tiveram acesso a um documento reservado escrito para o papa Bento
XVI, no qual é relatado que um cardeal siciliano tinha falado com alguns
eclesiásticos chineses prevendo um novo Papa antes de 2013. Os chineses entenderam
isso como uma ameaça de assassinato, mas, em retrospectiva, parece muito
provável que fosse uma referência à abdicação iminente.
Muda o
Papa, os problemas continuam
A eleição de Joseph Ratzinger representou um
afastamento da linha de João Paulo II, que era baseada no ecumenismo,
universalismo e uma tentativa de apelar mais para a juventude. Como marxistas,
sabemos que a política de Karol Wojtyla não foi menos reacionária: o papa
polonês abriu seu reinado sob a bandeira de um flagrante anticomunismo e da
intolerância, e a falsa postura anticapitalista e anti-imperialista adotada
após o colapso da URSS e durante a guerra no Iraque foi realmente utilizada
para ocupar o espaço político à esquerda e atrair milhões de jovens para o solo
estéril das manifestações de massa no Dia Mundial da Juventude, puxando-os para
longe da luta contra o capitalismo. Esta manobra, no entanto, revelou seus
limites com o chamado movimento antiglobalização, quando a tentativa católica
de sequestrar o movimento produziu resultados muito escassos. Na realidade, o
falso anticapitalismo de Wojtyla nem sequer conseguiu impedir o deslocamento
para a esquerda na América Latina, e o ecumenismo não conseguiu desacelerar
significativamente o avanço de outras religiões e seitas novas.
A eleição deste teólogo alemão foi uma escolha
obscurantista que implicava uma mudança de foco de volta para o núcleo duro dos
verdadeiros crentes conservadores. Foi uma escolha provinciana destinada a
cuidar dos gananciosos interesses da Igreja na Itália e das intrigas dentro da
Cúria de Roma. Como podemos observar, esta linha também enfrentou grandes
problemas e agora foi derrotada. Seu papado viu um fluxo interminável de escândalos
vergonhosos, divisões dramáticas, e declarações reacionárias.
Ele herdou do papa anterior o enorme escândalo dos
encobrimentos e da cumplicidade das chancelarias diocesanas e do Vaticano nos
casos de estupros cometidos por sacerdotes, particularmente em crianças, e ele
tratou esses casos com reticências e uma conspiração de silêncio (tudo isso
está agora de novo pegando fogo com protestos em muitos países contra os
cardeais passíveis de condenação sendo admitidos no novo conclave.
Um
sistema em crise
A crise do capitalismo é também a crise dos seus
pilares ideológicos. Nenhum novo papa poderá encontrar uma maneira de sair
deste beco sem saída. A Igreja Católica Romana, um fator formidável de
estabilidade para o capitalismo mundial, pode se transformar em seu contrário e
se tornar um elemento de instabilidade. O banco da Igreja pode falir como às
vezes acontece com os bancos. Uma Igreja que fala uma linguagem anacrônica
quando se trata de direitos civis e da igualdade social, mas que, ao mesmo tempo,
entende muito bem a linguagem do poder e dos derivativos financeiros pode
rapidamente perder o amplo apoio que ainda goza. Divisões no alto escalão sobre
obscuras lutas pelo poder vão minar a sua credibilidade e anunciam cismas,
tanto à direita, como os Católicos Tradicionais, e à esquerda, como a Teologia
da Libertação.
Conclusão
Igreja se tornou um interessante instrumento
político, mas não não conseguiu alcançar a importância cultural que desejava.
Não foi sequer uma traição: o novo mundo - neoliberal - sequer achou espaço
para si próprio nele e definha por conta própria, depois de sua gloriosa
vitória. Não há nada mais moderno do que as técnicas de poder da Igreja e nada
mais arcaico do que o Mercado, mas ambos se encontram na desdita. Nada mais curioso,
aliás, que uma renúncia em pleno Carnaval, a festa que nasce da sátira ao luto
público pela morte do imperador romano e na qual as leis estão suspensas para o
deleite da carne.
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